Genealogia, Brigas e Primeiros Beijos - Parte 02

     Aquele primeiro encontro com Pierre, havia sido mais que especial. Naquele momento, Sophie se lembrou da sensação daquele dia, de que o tempo simplesmente havia parado, que uma bolha havia sido criada protegendo-os do mundo exterior, protegendo-os da guerra iminente no mundo bruxo.
     Após alguns momentos, ainda imersa em seus pensamentos, a ruiva suspirou profundamente, olhou para o namorado até que finalmente disse:
     - Não, foi sua aposta que uniu a gente.
     Pierre deu um sorriso de lado, sabia que Soph não iria dar o braço a torcer assim, tão fácil. Porém, ele também não iria.
     - A aposta fez eu te conhecer Sophie. Se ela não tivesse tentado apaziguar tudo, não estaríamos aqui, nesse momento.
     - Não concordo. As coisas poderiam ter se ajeitado.
     - Não acho. Sophie, se não fosse pela Nádia, você não saberia da aposta e estaríamos vivendo uma mentira.
     - Bem... Nossos beijos não foram mentira... - Resmungou a ruiva, voltando a pegar o livro e suas anotações.
     - Não disse isso Sophie... Você me entendeu. Aceita que a garota é uma boa pessoa.
     A garota revirou os olhos e bufou:
     - Admita que ela não falar dos pais é estranho...
     - Ela foi abandonada!
     - Ela fugiu da gente, em Hogsmeade, se lembra?! - Sophie segurava as anotações, balançando-as em frente ao rosto do francês. - Você- Sabe - Quem retornou... Não acha que precisamos estar preparados?! Para possíveis comensais da morte!
     - Sophie, você já viu a Nádia arrumar briga? - Pierre perguntou.
     - Não. Mas ela pode estar fingindo Pierre!
     - Para de ser neurótica. Se te incomoda tanto, por que não pergunta para ela? Sobre o passado dela. Vocês não são amigas?
     Sophie baixou suas anotações e encarou o francês:
     - Ela não me diria.
     - Tem certeza?
     Soph desviou o olhar do namorado e encostou sua cabeça na grande árvore:
     - Você diria?- Perguntou Sophie, encarando o rapaz.
     Naquele momento, Pierre achou que a garota estava se referindo mais uma vez a aposta. Contudo, na verdade, ela estava se referindo a si mesma, aos seus próprios segredos. Sophie mordeu o lábio inferior, pensando em como poderia contar ao namorado sobre sua promessa a Ian, sobre os votos perpétuos ou mesmo sobre os clãs bruxos escoceses.
     - Eu não disse por burrice. - Pierre respondeu. - Se você perguntar e ela não disser, deve ter seus motivos. Você imagina sua vida sem seus pais?
     - Algumas Vezes. - Respondeu a ruiva, até que Pierre olhou feio para ela. - Tá bem... Eu não imagino minha vida sem meus irmãos. Satisfeito?!
     - Imagina crescer sem pais e irmãos. - Pierre disse. - Não deve ser fácil. Ainda mais, ser uma bruxa! E descobrir que foi abandonada sabe-se lá por quem.
     Sophie bufou, mas não impediu Pierre de continuar.
     - Eu falaria com ela. Ela pode querer alguém para conversar e não saber como falar.
     - Se realmente acha tudo isso. Porque você não fala com ela? - Questionou a ruiva, sem querer ceder.
     - Porque não sou eu que quero saber da vida alheia!
     - Porque eu só não posso saber do meu jeito?! Não estou fazendo mal a ninguém! - A garota pegou as anotações novamente.
     - Faz do jeito que você quiser Sophie! Estou tentando preservar sua amizade.  Você gostaria que seus amigos investigassem sua vida, desconfiados da sua índole?!
     - Droga! Porque você tem de se meter?! Com certeza, é por ser um sabe-tudo da Corvinal! - Reclamo a ruiva, jogando os papéis de lado, com raiva.
     - Mas o que eu fiz? Eu tento ajudar e você dá ataque!
     - Eu não pedi sua ajuda! Você fica tentando me fazer racionalizar feito um corvinal, só porque você acha que seu ponto de vista é o correto! - A garota começou a recolher os seus pertences.
     - Se perder uma amiga, problema seu! Faz o que você quiser da sua vida! - Pierre levantou emburrado.
     - Ah não! Eu que estou furiosa com você! E não o contrário! - A ruiva empurrou o grande livro sobre genealogia, contra o peito de Pierre. - Anda logo! Tenho de devolver essa droga na biblioteca! Não era isso que você queria?!
     - Devolve sozinha! Eu não fiz nada! Tentei ajudar! - Pierre devolveu o livro e saiu andando.
     Soph olhou para o livro e o atirou contra o namorado, quase o acertando, passando a centímetros da sua cabeça.
     - ISSO PODE MATAR SABIA?! LOUCA! - Berrou o corvinal.
     - Parece que nossas brigas nos tempos da sua aposta, não eram falsas. Não é mesmo? - Retrucou Sophie, enquanto pegava o livro caído na grama.
     - Não, não eram. Deixa a Madame Prince saber que você está atirando livros pelo castelo! - Pierre respondeu e continuou andando.
     - Ah! Seu discurso de moral irretocável só vale para mim? Dedurar os colegas, tudo bem? Se for assim, acho que há meios menos inescrupulosos de um corvinal conseguir acesso a seção proibida! - Falou Sophie, indo em direção à Torre da Grifinória.
(...)
     No dia seguinte, no café da manhã Sophie encontrou Pierre no Salão Principal. Ele sorriu timidamente para a ruiva, que não sabia o que fazer.
     O garoto foi até sua direção e disse:
     - Bonjour.
     Sophie não respondeu, apenas resmungou algo que não dava para entender.
     - Ora vamos... - Pierre tirou do bolso interno da capa um pequeno pacote da Dedos de Mel.
     - Acha que vamos ficar de bem, com isso?! - Indagou Soph.
     Pierre deu de ombros, sabendo que a ruiva não resistiria em saber o que continha no pacote.
     - Tortinhas de abóbora? - Sugeriu a ruiva.
     - Nem passou perto... - Respondeu Pierre, com um sorriso de lado.
     - Não... - Sophie olhava com curiosidade o pacote, tentando adivinhar o seu conteúdo. - Você não tinha como conseguir...
     - Acho que você vai ter de... - Antes que o rapaz completasse a frase, a ruiva arrancou o pacote em suas mãos.
     - Lesmas de geleia! - Comemorou a ruiva dando pulinhos. - Como você conseguiu?! Estavam em falta em Hogsmeade.
     - Conheço um cara, que conhece um cara...
     - Quem você subornou? - Sophie perguntava de boca cheia.
     - Ninguém. Comprei e deixei guardado, caso acontecesse de nós brigarmos. De novo. - Pierre riu. - Soph, você não acha melhor tomar café antes de comer doces?
     - Aham, aham. Café. - Sophie guardou o pacote nas vestes. - Até daqui a pouco. - Ela deu um beijo no garoto.
     - Separem! - Um monitor gritou. - Não é permitido beijos no Castelo.
     - Chato. - Sophie resmungou, indo se sentar junto aos alunos da Grifinória.
(...)
     Depois do café da manhã, Soph foi correndo em direção à Pierre, para aproveitar os últimos minutos, antes da aula. Quando a ruiva se atirou nos braços do rapaz, pronta para beijá-lo, escutou um barulho de pigarro. Era o mesmo monitor de outrora, que mais uma vez, olhava feio para o casal.
     Antes que a ruiva pudesse dar uma resposta mal-criada, Pierre a puxou.
     - Vamos Sophie, eu te acompanho até a aula.
     À caminho da aula de feitiços, quando estavam sozinhos, a ruiva suspirou profundamente e começou:
     - Deixei o livro. Na biblioteca. Ontem de noite. Pensei no que você falou.
     - E...?
     - Não é certo. - Sophie respondeu. - Ela deve ter os motivos dela, para ser assim.
     - Muito bem. Essa é a ruiva que eu conheço.
     Sophie riu e Pierre continuou:
     - Você vai perguntar a ela?
     - Acho que sim. É estranho perguntar esse tipo de coisa para as pessoas.
     - Confio em você. - Pierre sorriu.
     A garota olhou carinhosamente para o rapaz. Naquele instante, não estava mais pensando em Nádia e em toda aquela situação. Na verdade, estava pensando por quanto tempo conseguiria manter os seus próprios segredos, guardados de todos, principalmente de Pierre.

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