Razão e Sensibilidade - Parte 02

(...)

          - Não chore... - Evangeline passou a mão nos ombros da ruiva. - Se apaixonar não é ruim.
          - É no meu caso. Você deu sorte Evangeline, se apaixonou por quem "pode" se casar...
          - Não é sorte, é destino. - A morena sorriu.
          Sophie deu de ombros e Evangeline continuou:
          - Soph, se for do seu destino, você vai casar com esse rapaz e tudo vai dar certo. Como pode não dar certo e você casar com ele mesmo assim...
          - Bem... Eu estou me precipitando. - Sophie enxugou o rosto e forçou um sorriso. - Eu e o Pierre estamos juntos há pouco tempo... Com certeza não estamos nesse ponto.
          - Nunca se sabe. Eu acho que tem tudo para dar certo.
          - Você acha mesmo?
          - Claro! Mas você só terá certeza quando ele conhecer a sogra, aí vai saber se é para valer ou não. - Evangeline riu.
          Sophie não pode deixar de dar uma gargalhada.
          - Muito bem noivinha espertalhona. - Começou a ruiva se recuperando, enquanto passava as mãos no rosto, virou-se para a futura cunhada. - Esse fim de semana não é sobre a minha vida amorosa, e sim a sua. - A garota enlaçou seu braço junto ao de Evangeline. - Haveria possibilidade de você ter alguma garrafa de um legítimo uísque de dragão escocês, no seu quarto?
          - Você acha que eu ouso andar sem uísque de dragão escocês? - Indagou Evangeline, arqueando a sobrancelha. - Até parece que não me conhece... - A morena deu um sorriso de lado.
          - Então vamos! - Sophie caminhava em direção à porta, guiando Evangeline. - Vou precisar lhe dar altas doses de uísque de dragão... só assim para você não desistir do bobão do meu irmão!
          As duas garotas saíram do recinto, indo em direção à uma noite regada por altas doses de bebida e cantigas tradicionais escocesas.

(...)

          No dia seguinte, Sophie ignorava que o fato de estar com uma ligeira ressaca, enquanto dava os retoques finais em sua maquiagem. Ela tinha de reconhecer que na noite anterior, bebeu uma quantidade astronômica de uísque, mesmo para os seus padrões.
          - Bem, melhor do que isso, não fica. - Respondeu a ruiva se encarando no espelho. Apesar da cabeça latejando, a garota se parabenizava mentalmente, conseguira fazer uma boa produção.
          Naquele dia, Sophie trajava um vestido longo de finas alças, na cor verde água, era esvoaçante com aplicações de renda ao longo da saia. Nos cabelos, a ruiva havia optado por deixá -los soltos, com um leve ondulado neles. A maquiagem era leve, já que seria um casamento diurno, e as discretas joias douradas complementavam todo o visual.
          A jovem bruxa ainda estava sentada frente à penteadeira, no quarto de hóspedes do clã da família de Evangeline, os Sinclair. A ruiva olhava para o colar com o pingente de fada, não o usaria naquele dia, causaria muitas perguntas. Perguntas que naquele momento, a ruiva não sabia nem por onde começar a responder.
          Soph deu um pesado suspiro, guardando o colar na caixinha de jóias que trouxera. De repente, a garota ouviu três batidas na porta.
          - Posso entrar? - Uma voz dizia do lado de fora.
          - Não! - Sophie brincou.
          Ao invés de resposta, a porta se abriu. Era Ian.
          Ian era o irmão mais velho de Sophie, na verdade o segundo mais velho, visto que, James era o primogênito. Ian era alto, ombros largos e relativamente forte, cabelos loiros médios e profundos olhos verdes, como os de sua irmã caçula.
          - Mamãe mandou perguntar se você já estava pronta.
          - Quase. - Sophie respondeu.
          - Olha, sua cara não vai ficar melhor. Você está parecendo uma mandrágora inchada. - O garoto brincou. - Por que não toma uma poção revigorante?
          - Porque eu corro o risco de ficar parecida com você! - Respondeu Soph, apertando as bochechas do irmão mais velho.
          Os dois irmãos riam, enquanto Ian tentava se desvencilhar dos apertos em suas bochechas.
          - Certo, certo... - Falou Ian, depois que sua irmã decidiu parar de atormentá-lo. - O que mais está faltando nessa superprodução? - Ian olhou para a ruiva de cima abaixo.
          - Um retoque final. - Disse a garota, segundos antes de bagunçar os cabelos loiros do irmão. - Pronto! Agora podemos ir!
          Os dois saíram do quarto correndo e rindo e acabaram se deparando com sua mãe, que os esperava no final da escada.
          - Quem se atrasa é a noiva. Não me façam passar vergonha.
          - Desculpa mãe. - Os dois disseram em uníssono.
          - Vamos. Seu irmão já foi com seu pai.
(...)

          Os três rumaram para os jardins da aldeia que Evangeline seria líder. Todo o local já estava decorado e pronto para o casamento. Os pais de Evangeline, Rufus e Amelia, foram os primeiros a cumprimentar os três integrantes da família Armstrong-Wallace.
          - Cecille, hoje é um dia de extrema alegria para mim: nossas famílias vão se unir!
          O senhor alto de cabelos grisalhos e intensos olhos azuis, abraçou a mulher.
          - Sim. - Respondeu Cecille, secamente, apesar de ter um sorriso educado nos lábios.
          - É emocionante presenciar esse amor juvenil, não? - Falou a mãe de Evangeline, uma senhora baixinha com cabelos castanhos claros e olhos cor de mel.
          - É sim. Bom, com licença, vou procurar meu marido. - Cecille disse e retirou-se, com seus filhos a seus pés.
          "Mamãe sempre sutil." Ian comentou com Sophie, que abafou o riso.
          - Eu ouvi. - Cecille disse rispidamente.
          Ian e Soph instintivamente gelaram por alguns segundos, antes da ruiva responder:
          - Màthair, só estamos tentando dizer que não precisava ser tão dura com os Sinclair. Afinal, Jamie está casando com quem ama, podemos não ser tão formais?
          - Eles ganharam um líder, eu perdi um. - Cecille respondeu de ombros. - Vamos encontrar seu pai.
          Os três encontraram Brian, marido de Cecille, já posicionado para o começo da cerimônia. A semelhança entre ele e seus dois filhos mais velhos era tão impressionante, quanto a de Sophie para com sua mãe.
          Os dois irmãos deixaram a mãe e foram procurar seus lugares.
(...)

          Enquanto o casamento não começava, Sophie e Ian conversavam:
          - Estou muito feliz pelo Jamie. - Soph disse.
          - Eu também. Eles parecem se amar muito.
          - Sim... - A ruiva respondeu baixinho.
          - Está tudo bem? - Perguntou o loiro.
          - Claro que sim. Só estou emocionada com tudo isso. - Mentiu Sophie.
          Ian foi até o ouvido de sua irmã e sussurrou:
          - Quer falar sobre o acordo?
          A garota sentiu o coração acelerar e as mãos suarem. Após engolir seco, respondeu:
          - Não. Tudo permanece como há cinco anos atrás. - Naquele momento, a ruiva deu o melhor sorriso que podia para seu irmão, ainda que não muito convincente.
          - Se quiser falar, me fala. - Ian empurrou a irmã de leve com o ombro. - Agora vamos ficar quietos. Vai começar o casório e eu não quero que a Dona Cecille deserde a gente.
          A cerimônia iniciou-se com o toque da gaita de foles, e pouco a pouco os integrantes dos clãs Sinclair e Armstrong-Wallace entravam. Depois que se posicionaram, trombetas ecoaram e todos os convidados se levantaram, era o momento da noiva entrar.
          Evangeline tinha os seus cabelos soltos, com pequenas flores presas em cachos que caíam pelo seu ombro. Seu vestido era simples, branco e justo. Ao invés da garota usar o tartan de seu clã de maneira tradicional, ela o amarrou na cintura, deixando as pontas caídas.
          Jamie deu um largo sorriso, ao ver Evangeline  entrando. Era inegável que o jovem bruxo escocês estava completamente apaixonado pela mulher que vinha em sua direção.
          O pai de Evangeline a entregou para seu futuro marido, cumprimentando o noivo logo em seguida. Depois, foi presidir a cerimônia, visto que, como chefe do clã, era o seu trabalho realizar os casamentos das pessoas que viviam naquela vila bruxa.

(...)

          Após a bela cerimônia, com James e Evangeline agora casados, todos ali presentes se dirigiram para a recepção. A festa seria no mesmo local da cerimônia, nos jardins do clã Sinclair.
          O local estava ricamente adornado com rosas perfumadas rosas cor de creme, toda a louça era branca com detalhes em dourado, mesas redondas cobertas por toalhas brancas com estrelas douradas combinavam perfeitamente com as bandejas que serviam canapés, uísque de dragão escocês e champanhe.

          Na pista de dança, os noivos faziam sua primeira dança como casal. James e Evangeline sorriam um para o outro, embalados pela música lenta. Os convidados olhavam encantados para o casal apaixonado.
          - Uma das melhores coisas que fizemos, foi falar com o Conselho Ancião. - Disse Ian para a irmã, admirando a valsa a sua frente.
          - Sim... O Jamie merecia se casar por amor. - A ruiva olhava para tudo aquilo, pensando que não teria aquela mesma oportunidade.
          - Espero que saibam que pedir autorização ao Conselho, fez com que a responsabilidade do clã caia sobre um de vocês. - Interrompeu Cecille, olhando para os filhos.
          - Cecille... - Interviu Brian. - É o casamento do nosso primogênito. Além disso, Sophie e Ian só vão ter de pensar em quem vai assumir as responsabilidades, depois do último ano de nossa filha... Eles ainda têm um ano.
          - Estou apenas comunicando. - Respondeu a mulher, bebericando seu uísque de dragão.
          Sophie sentiu o corpo todo gelar. Seus braços e pernas pareciam tremer, como se, a qualquer momento, a garota fosse perder os sentidos.
          Ian percebeu que a irmã estava  extremamente nervosa e resolver interceder:
          - Bah! Todo mundo sabe que eu vou ser o líder do clã. Assim posso continuar solteiro e conquistando corações por onde passo. - Ele piscou discretamente para a ruiva e continuou. - Vamos dançar irmãzinha. - Disse ele, vendo que a pista acabara de ser aberta para os convidados.
          Ele puxou a garota pelo braço e levou-a até a pista de dança.
          - Não deixe que as palavras da nossa mãe te afetem assim Soph.
          - Eu sei... - Falou Sophie, dando um sorriso desanimado para o irmão. 
          Após alguns minutos em silêncio, com os dois irmãos apenas seguindo o lento ritmo da dança, Ian rompeu o silêncio.
          - Desembucha. Eu te conheço.
          A ruiva olhou seriamente para o loiro.
          - Tinha um fundo de verdade? O que você falou agora a pouco, para nossa mãe?
          - Que eu vou conquistar corações? - Ian brincou. - Claro! Já viu esse rostinho lindo?
          - Estou falando sério seu idiota!
          Ian rodopiou a irmã para não ouvi-la falar mais. Quando ela voltou para sua frente, ele continuou:
          - Eu também. Se tiver que ser, eu serei o líder do clã. Na verdade, já que tocamos no assunto, você nunca pareceu tão apreensiva com essa história de líder, até hoje. Soph, se você estiver gostando de alguém, quebre nosso acordo.
          A garota olhou espantada para o irmão.
          - É isso o que você quer? Faça. - O rapaz, naquele momento, tinha uma voz e um olhar muito doces.
          Soph queria abraçar o irmão, queria lhe contar tudo o que estava se passando. Porém, além do acordo que tinha com o ele, a garota também havia feito uma promessa a si mesma.  
          - O acordo continua. - Respondeu a ruiva com a voz embargada, logo antes de depositar um beijo na face do irmão.
          - Ele é quebrável a hora que você quiser. Ainda mais se me apresentar alguma amiga sua. - O rapaz deu mais uma piscadela, antes de rodopiar a irmã mais uma vez.

Continua...

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