Tratamento de Choque

          Era sexta à noite, Sophie estava numa sala vazia de Hogwarts. A jovem bruxa estava sentada no chão, rodeada por álbuns e pergaminhos. A jovem estava absorta em sua tarefa, quando ouviu o barulho da porta se abrindo, revelando uma moça bastante alva de cabelos negros. Era Nádia.
          - Deixe-me adivinhar, o Johnny deu com a língua nos dentes, de onde eu estava, ao invés de estar saboreando o banquete no salão? - A ruiva tinha uma de suas sobrancelhas arqueada.
           Nádia abaixou-se, sentando ao lado da amiga:
          - Ele não é o melhor guardador de segredos do mundo. O que você está fazendo?
          - Não mesmo. - Sophie lançou um sorriso para a jovem ao seu lado, pensando que, John sabia esconder ao menos dois segredos: os sentimentos pela morena e a "pequena" travessura contra o bando liderado por Prince. - O meu irmão Jamie me mandou uma carta há alguns meses... Dizendo que finalmente havia marcado a data de seu casamento. - A ruiva voltou seu olhar para os papéis ao seu redor. - Vai ser nesse final de semana, amanhã cedo vou para a Escócia. - A jovem bruxa colocou uma mecha de seu cabelo ruivo atrás da orelha. - E, estou um tanto nostálgica... Apesar da grande diferença de idade, eu e meus irmãos somos muitos unidos... É como se  o casamento dele fosse meio que um fim de uma era. - Sophie virou-se para Nady. - Sou muito estranha, não?
          - Não é não. É normal sentir saudades da família. No orfanato, nós éramos como irmãos: uns, mais; outros, menos. - A garota sorriu carinhosamente para Soph.
           - Eles não achavam você estranha lá? - Nesse momento a ruiva fechou os olhos querendo se socar, devido a sua falta de tato. Porém, decidiu tomar uma medida menos drástica: reformular sua pergunta. -Q-quero dizer, você devia se expor, bruxos jovens sempre deixam transparecer sua magia...
           - Alguns achavam, outros não e tinha os que tinham medo de mim. Mas nós crescemos juntos, eu tenho uma família lá, por isso ainda volto nas férias. - Nádia deu de ombros.
          - Você foi pra lá ainda criança né? - perguntou Sophie, olhando para uma foto em que ela estava com a sua família. Todos da foto sorriam e se abraçavam. A ruiva se lembrava daquele dia, a foto havia sido tirada na noite anterior a sua primeira ida a Hogwarts, há cinco anos atrás.
          - Desde que nasci. - Nádia pegou a foto da mão da amiga. - Sua mãe é linda! - Nady admirava a beleza da mãe de Sophie. Uma mulher de estatura mediana, cabelos longos e ruivos e olhos de um verde intenso, na verdade, Soph era uma cópia mais jovem de sua mãe.
          - Obrigada... Deve ter sido difícil. - A garota deu um sorriso sem graça. - Se bem que, com os escândalos da minha família "assombrando" o mundo bruxo, também não é nada fácil tê-los por perto...
          - Cada família tem sua história. - Nádia deu de ombros, antes de tentar mudar de assunto. - Está ansiosa pelo casamento do seu irmão?
          - Sim e não... - Com a expressão confusa de sua amiga, Sophie tentou se justificar. - Vai ser um evento tradicional e cheio de pompa. A noiva, assim como meu irmão são de famílias tradicionais. Contudo, a pior parte, é ver meus pais fingindo ser casal perfeito, quando todo o mundo bruxo sabe que deviam estar divorciados.
          Nádia olhou para a amiga e disse seriamente:
          - Não reclame tanto dos seus pais...
          - Eles se torturam há anos, e com isso, torturam a mim e a meus irmãos. É um fardo que eles gostam de deixar bem claro para toda a família. - A ruiva fechou os olhos e suspirou fundo. - É ruim para todos. Então, por que eu não falaria mal?
          - Porque eles são seus pais e nunca te abandonaram. - Nádia respondeu de cabeça baixa.
          Mais uma vez, Sophie sentiu vontade de agredir a si mesma, fisicamente, por não saber medir as palavras.
          - Sinto muito Nádia...- A ruiva segurou a mão da amiga. - Mas... Mas há outras maneiras de ser machucada por aqueles que nos trouxeram ao mundo. - Soph procurava as palavras, tentando esclarecer seu ponto de vista para a sonserina. - Os meus pais mantêm essa coisa doentia, não é só o casamento de fachada, é o fato de eles não tentarem tornar as coisas, ao menos, suportáveis... - A garota conteve a vontade de chorar. - Algumas vezes, ter uma família só torna tudo mais complicado... Quer dizer, quando você vem de uma linhagem tradicional e sangue-pura, as aparências devem ser mantidas. - Sophie estava com a voz embargada.
          - Eu fui abandonada por isso Soph. - Nádia falou baixinho. - Por causa de aparência.
          Sophie não conseguiu conter o seu olhar de espanto.
          - O- o quê?! V-Você sabe... sabe porque foi abandonada?! - Perguntou a garota, que naquele momento, estava com o coração acelerado e os lábios entreabertos.
          - Sim. O Prof. Snape e a Prof. Minerva conversaram comigo, quando eu tinha onze anos. Disseram que eu fui abandonada porque era impossível meus pais ficarem juntos por muitos e muitos motivos. - Nádia olhava para baixo.
          Naquele momento, a ruiva se sentiu péssima por ter investigado Nady. Olhar para o estado da morena, fez Soph ter a certeza do quão errada foi sua atitude de investigar a garota ao seu lado. Mais uma vez, provou-se que naquele assunto, Pierre estava certo. Não importavam o motivos, a ruiva reconhecia todos os erros que havia cometido, por conta de seus preconceitos e rivalidade com a Sonserina.
          - Entendi. Você não...não precisa me falar mais nada. - As duas jovens se abraçaram, permanecendo assim, durante vários instantes.
          Em seguida, Sophie segurou o rosto da amiga com as duas mãos.
          - Os nossos pais fizeram besteiras, em nome da tradição e do sangue puro, mas não deixe isso te definir... Você não é só uma esquisitona abandonada. - A ruiva olhava carinhosamente para Nady. - Assim como eu e os meus irmãos não somos só uns coitadinhos, com pais num casamento de fachada. Coisas ruins acontecem com todo mundo, não podemos evitar. - A garota segurou as mãos da amiga, apertando-as. - Mas podemos controlar como isso nos afeta.
          - Eu sei. - A sonserina respondeu cabisbaixa. - Na maioria das vezes eu não ligo, por incrível que pareça, eu não sofria tanto no orfanato quanto aqui... - Uma lágrima solitária caiu no rosto de Nádia. - Ainda mais por ter caído na Sonserina. Lá eles não perdoam.
          Sophie sabia exatamente ao que a morena estava se referindo. A emboscada do bicho-papão. Teoricamente, a grifinória não sabia de nada, muito menos teria planejado uma vingança. Então Soph não podia dizer exatamente tudo o que queria, algo que a ruiva não fazia com frequência.
          - Você tem de parar de ser a boazinha Nádia. - A grifinória olhava seriamente para a sonserina. - Dizem que eu sou louca... E quer saber? Eu sou mesmo. - A ruiva deu de ombros. - Sabe porque o pessoal metido da Sonserina não mexe comigo? Porque eu não tenho medo de retribuir na mesma moeda. - A garota mordeu o lávio inferior, numa tentativa de não dar com a língua nos dentes. - Você é da Sonserina, já está na hora de você assumir a Casa que  você pertence... Revidar não te faz ser um monstro Nady, te faz andar de cabeça erguida.
          - Soph, eu sei revidar. Eu consigo lançar azarações  e todos os feitiços que aprendi melhor que qualquer aluno do nosso ano, mas eu não quero. - A jovem sentia suas mãos suarem. - Se eu fizer isso, eu vou ser como meus pais. - As últimas palavras de Nádia saíram baixas como um sussurro.
          Nádia respirou fundo, tomou fôlego e continuou:
          - Eles não foram as melhores pessoas.
          - Se juntaram a Você- Sabe-Quem, na primeira guerra bruxa? - Questionou Sophie, tomando cuidado para não ser mais uma vez, grosseira.
          - Podemos dizer que sim.  Fiéis seguidores, um dos mais assíduos. - Nady estava com um olhar distante.
          - Nádia, entenda de uma vez por todas. Existiram os que seguiram abertamente Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, assim como aqueles que lutaram contra ele. Porém, houve os que se omitiram...muitos ficaram sem fazer nada. - A ruiva ficou de frente para a amiga, encarando-a.- Independentemente da posição que os parentes de cada um tomou, não significa absolutamente nada! A única pessoa que pode te definir, é você mesma. Ninguém aqui tem de ter orgulho de nada, ninguém aqui fez parte das decisões do passado.
          - Sophie, meus pais mataram pessoas. Você tem noção do que é isso?! Eu estudo com pessoas que os parentes e amigos podem ter morrido pelos meus pais. Isso é vergonhoso pra mim! - As mãos de Nádia começaram a tremer.
          - Eu não disse que não era... - Sophie pegou uma foto em que os cinco integrantes de sua família estavam, colocando-a na mão de Nady. - Olhe para isso, os meus pais se omitiram para se protegerem! Os meus pais sempre tiveram recursos, poderiam ter evitado muitas mortes, mas eles não fizeram isso! Os meus pais poderiam ter salvado vidas, mas não salvaram!  O que os torna melhores?! 
          - Não reclame dos seus pais. E jamais compare eles com os mais. Por favor. - Nádia devolveu a foto.
          A ruiva se levantou e começou a recolher seus pertences. De repente, virou -se para morena, abaixou-se até ficar na altura dos olhos da garota que continuava sentada e lhe estapeou o rosto:
          - Sim, eu bati em você. Já está na hora de aprender a reagir!
          Nádia recebeu o tapa com surpresa.
          A ruiva lhe deu outro tapa.
          - Vamos, reaja! Um tapa vai ser muito mais que os seus coleguinhas irão fazer com você se continuar assim! - Mais uma vez a ruiva bateu na morena. - REAJA!
          O segundo e o terceiro  Nádia recebeu com raiva. Antes que Sophie pudesse lhe dar o quarto, segurou a mão da amiga e revidou o tapa.
          - Eu disse que sou calma, mas não tenho sangue de lesma!
          Para espanto de Nádia a ruiva sorriu, enquanto colocava a mão no lugar que recebera o tapa:
          - Que bom que você sabe fazer alguma coisa além de ter medo demais de errar. Os covardes que não fazem nada, são piores do que os que escolhem o lado errado. Os que não fazem nada são tão responsáveis, quanto aqueles que torturam e mataram. - A ruiva segurou a morena pelos ombros. - E quando houver outra guerra bruxa, escolher um lado é crucial. Escolha um lado Nádia, de preferência o oposto a de seus pais, mas se for o mesmo... pelo menos assuma seus atos. Se deixar ser torturada por imbecis que se acham poderosos, não te afasta do que você mais teme, só aproxima.
          Após o seu discurso, a ruiva suspirou e terminou de recolher suas coisas. Antes de ir embora, quando já estava na porta, perguntou:
          - Ainda seremos amigas pela manhã?
           - Claro que sim... Obrigada Soph. - Nádia sorriu.
          - Outra coisa... O que você acha dos garotos da Grifinória em geral? Namoro um da corvino, mas é sempre bom se manter atualizada sobre essas coisas. - Falou Sophie, sem expressar nenhum estranhamento em sua súbita mudança de assunto.
          - Por quê a pergunta Soph? Vai dar um pé na bunda do Pierre? Me avisa antes para eu me esconder dele! - Nádia olhou engraçado para a ruiva.
           - Possivelmente... - Respondeu a garota rindo e saindo do cômodo.
          - Soph, me espera aí! Não faz uma afirmação bombástica dessa e sai! - Nádia correu atrás da amiga.
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De Lumus Hogwarts: sabemos que estamos sem postar #TBT para vocês, mas no momento vamos suspendê-los para trazermos um conteúdo de qualidade. Mas não se desesperem, voltaremos com eles com força total, só estamos pedindo um tempinho pra gente se organizar! Agradecemos pela compreensão!

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