Razão e Sensibilidade - Parte 03

França. Um dia antes do casamento do irmão da Sophie.
          - Père! Mère! Cheguei! - Pierre dizia, jogando sua bolsa de viagem na sala. - Onde estão vocês?
          - Na cozinha! - René, pai do rapaz, respondeu. - Venha tomar um café.
          O garoto foi até a cozinha. Entrando lá, viu seus pais sentados, conversando. Ele deu um beijo na mãe e um abraço no pai.
          - Onde está Chloe? - Ele perguntou.
          - Sua irmã não conseguiu vir, vai ficar na escola estudando. -  respondeu a mãe de Pierre, Elise.
          - Vamos agradecer a Merlin por isso... - Soltou Pierre, antes de receber um olhar severo da mãe. - Tá bom... Só estou brincando. - Pierre pegou uma cadeira e sentou-se junto aos pais.
          - Como vai o namoro? - Perguntou René. - Pela sua última carta, parece que vocês conseguiram se acertar. - O bruxo mais velho passava manteiga em um croassaint.
          - Espero que você tenha tomado jeito... Uma aposta meu filho?! Mas que ideia mais sem cabimento! - Elise interviu, enquanto colocava uma generosa xícara de café para o filho, com um movimento de varinha.
          - Desolé maman. - Pierre encolheu os ombros, envergonhado.
          - Eu realmente espero que você não faça mais nenhuma burrice. Como você se sentiria se fizessem isso com a sua irmã?! - Elise continuou. - Não foi essa a educação que eu te dei Pierre!
          - Desculpa... - O garoto ficou vermelho.
          - Você deveria pedir desculpas eternas à essa menina Pierre Paradie!
          - Eu sei mãe... - O rapaz agora, além de vermelho, afundou na cadeira.
          - Onde você estava com a cabeça?! Num balde de lesmas?! - A jovem senhora encarava o filho, com os punhos fechados, em cima da mesa.
          - Desculpa mãe... - Pierre afundou ainda mais na cadeira.
          - Elise, acho que ele aprendeu a lição da pior forma... - René tentou intervir.
          - Tudo bem, tudo bem... - Disse a jovem senhora. - Mas que isso não se repita, do contrário, você vai ter mais motivos pra se preocupar, do que com um término de namoro! - Elise gesticulava enfaticamente para o filho, com as mãos.
          Após vários instantes em um silêncio nada confortável, o pai de Pierre tentou mudar de assunto:
          - Então filho... Você disse que precisava conversar conosco algo muito sério... 
          René foi interrompido pela esposa:
          - Lembrando que a última vez que ele veio aqui, foi lhe pedindo conselhos para arranjar uma solução e conseguir voltar com a namorada, depois daquela estúpida aposta...
          - Elise... - Pediu René. - Nosso filho cometeu um erro. É um fato. Porém, ele não daria o colar de minha mãe, se ele não estivesse levando esse relacionamento à sério.
          A jovem senhora loira deu um longo suspiro, se resignando.
          - Então meu filho, o que você tem para nos contar? - Reiniciou René calmamente.
          - Pai, você descobriu que queria casar com a mamãe quando? - Pierre apontou para a mãe com a cabeça. O rapaz evitava encará-la.
          - Bem... a gente não descobre. Eu só senti que queria casar com ela. - René respondeu. - Por quê?
          - Porque eu quero casar com a Sophie. - Pierre respondeu.
          - VOCÊ QUER O QUÊ?! - Elise começou a ficar vermelha.
          - Pierre, você quer casar com a menina por causa da aposta?! Não faça isso meu filho. Não é correto. - O senhor mais velho advertiu.
          - Exatamente! Imagina, prender uma pessoa por casamento para tentar livrar a cara por causa de uma ideia estúpida! - A mãe do francês exclamou.
          - Não... vocês entenderam errado! - O garoto suspirou e começou a corar novamente. - Eu... eu...eu amo a Sophie. Não consigo me imaginar sem ela.
          - Filho... Você é muito jovem... - Começou René, colocando a mão no ombro direito do filho.
          - E é a sua primeira namorada... Sabemos que o primeiro amor é empolgante, mas casamento é coisa séria! - Elise tinha a respiração acelerada.
          - Fora que vocês se conhecem a pouco tempo... - Continuou o pai do moreno.
          - E se acertaram há pouco tempo. - Completou Elise, olhando severamente para Pierre.
          - Mãe, pai, eu realmente amo a Sophie. - Pierre tentou explicar, corando ainda mais. - Eu não sei nem como explicar o quanto gosto dela... - O rapaz voltou a ficar cabisbaixo.
          René se levantou e foi em direção à esposa. Ele sussurrou em seu ouvido:
          - Ele deve estar com vergonha de você. - A bruxa, apesar de ter escutado claramente, não mexeu um músculo, fazendo com que seu esposo a olhasse, num pedido mudo para que ela se retirasse.
          Elise assentiu e saiu à contragosto da cozinha, deixando pai e filho sozinhos.
          - Meu filho, eu e sua mãe não estamos tentando colocar empecilhos em suas decisões. Contudo, você e essa garota...
          - Pai, eu fiz muita burrada com a Soph. Eu sei disso. Sei também que... - Pierre procurava as palavras. - Não é uma decisão lógica ou racional, mas é o que eu quero. E, se ela também quiser, vou me esforçar pra fazer dar certo. - O rapaz deu de ombros, não conseguia explicar melhor seus sentimentos.
          René permaneceu em silêncio, absorveu toda aquela cena a sua frente e olhou para o filho com um sorriso.
          - Você gosta mesmo dela, pelo que estou vendo.
          - Oui ... - Pierre disse com um suspiro.
          René, então, levantou e abraçou o filho.
          - Estou muito feliz por você. Tem a minha bênção.
(...)
          Era noite. A família Paradie já se preparava para dormir; os pais de Pierre conversavam no quarto:
          - René, eu espero que esse papo de casamento não seja mais uma ideia mirabolante do seu filho! - A Sra. Paradie caminhava de um lado para o outro.
          - Não é Elise. Ele gosta da menina. - O bruxo tentava fazer sua esposa se deitar. - Calma chérie. Ele se arrependeu do que fez.
          - Calma René?! Eu não criei um homem para fazer isso. Ele não tem sentimentos?! Eu espero mesmo que tenha. Ou vocês vão ter que me visitar em Azkaban!
          - Dê um crédito a ele... - René tentava acalmar a esposa. 
          - Você defende demais o Pierre. Deveria ter deixado eu tomar as providências quando soubemos dessa história.
          - Elise, se acalme. O Pierre gosta dessa menina, gosta mesmo. Chegou a falar em amor.
          - René! O que o nosso filho fez com aquela pobre menina, alguém poderia ter feito com a nossa Chloe! Como você se sentiria sobre isso?!
          René deu com os ombros. 
          - Lançar um Cruciatus ou dois no infeliz. 
          - Está vendo?! Como podemos apoiar uma ideia dessas?! Como vamos saber se não é alguma outra tolice, ainda que não seja mais uma aposta estúpida... 
          - Não temos como saber Elise. - René respondeu. - Temos que confiar nele.
          A mulher olhou para o marido e suspirou.
          - E se ele fizer mais alguma besteira?
          -  Vamos garantir que ele vai sofrer as consequências.
          - O que você acha que devemos fazer? - Perguntou a bruxa olhando para o marido. Ela tinha os braços cruzados na altura do peito.
          - Apoiá-lo.
          Após vários minutos em silêncio, ainda encarando o marido, Elise deu de ombros:
          - Não consigo levar a sério essa história de noivado.
          - Por que você não conversa com ele? - O bruxo se dirigia até a sua cama.
          - Tudo bem. Amanhã converso com ele. - A bruxa parecia cansada de discutir.
          Elise deitou ao lado do marido e apagou as luzes. O dia seguinte a aguardava.
(...)
          Elise foi a primeira do casal a acordar. Assim, dirigiu-se à cozinha para preparar o café da manhã. A mulher percebeu que as luzes já estavam acesas e viu seu filho sentado, com uma xícara de café na mão.
          - Não conseguiu dormir? - Ela perguntou.
          - Não. - Ele respondeu monossilábico.
          - Está ansioso? - Elise tentou insistir.
          - Um pouco. - O tom da resposta fora o mesmo da anterior.
          - Quer conversar?
          O rapaz deu de ombros, baixando o rosto e encarando a xícara. Naquele momento, Elise se sentiu um pouco culpada, por ter sido tão dura com o filho no dia anterior.
          A bruxa deu um pesado suspiro, antes de se sentar ao lado de Pierre.
          - Sobre o que vamos falar primeiro? - Elise deu um doce sorriso.
          - Hm... - Pierre balbuciou.
          - Hm é um bom assunto. - Elise brincou. A bruxa colocou uma mecha de seu cabelo para trás da orelha.- Então você quer casar?
          - Quero.
          - Com a menina da aposta.
          - Com ela.
          - Muito bem. Você gosta dela?
          Pierre tomou coragem e encarou a mãe:
          - Eu sei que ter feito a aposta me coloca em descrédito, mas eu realmente me apaixonei. Eu não quero casar pra consertar um erro.
          - Querido, você é muito jovem... Não precisa se casar agora, você tem todo o tempo do mundo... - A mãe do rapaz repousou sua mão junto com a do filho.
          Pierre mordeu o lábio inferior.
          - Não é novidade que Você-Sabe-Quem voltou. Eu não vou ficar inerte nessa guerra, e sei que ela também não vai. Estaremos do lado mais fraco, porém, do lado certo... Muito provavelmente teremos o mesmo fim de muitos dos inimigos de Você-Sabe-Quem tiveram, mas tudo bem. Eu não me importo de morrer pelo o que é certo, contudo, eu me importo de passar por essa guerra sem ela ao meu lado. - O rapaz deu de ombros, não conseguia se expressar melhor do que aquilo.
          - Entenda Pierre, você vir de supetão com essa conversa de casamento... ainda mais com a menina da aposta, me surpreende. - Elise suspirou. - Você...bem... nunca foi uma pessoa de relacionamentos amorosos sérios.
          - Eu sei. Mas ela é diferente. - O jovem respondeu convicto.
          Elise fitou o filho por um tempo. Ela não tinha o que fazer, a não ser acreditar em sua palavra. 
          - Espere um momento. - Ela disse e saiu da cozinha.
          Pierre esperou uns minutos pela mãe. Ela voltou com uma das mãos fechadas.
          - Se for para ter um casamento, que seja feita da maneira correta. - Ela disse, colocando uma caixa de veludo azul na frente do garoto.
          O rapaz olhou para a caixinha a sua frente espantado.
          - Só a pegue, se estiver falando sério em relação a tudo isso. Não quero brincadeiras com a aliança de noivado de minha falecida mãe. - Disse Elise, olhando com seriedade para o filho.
          O jovem francês continuava encarando a caixa de veludo azul, sua boca estava seca e seu coração acelerado.

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