Verdade ou Desafio?

          Pierre saiu da aula de Transfiguração e foi ao encontro de Sophie, que estava na aula de História da Magia. O garoto aguardava na porta da sala, remexendo seu bolso, quando a viu sair da sala com o rosto sonolento.
          — Dormiu? — Ele perguntou em tom de brincadeira.
          — E tem como não dormir? — Ele respondeu coçando os olhos.
          — Não, não tem. — O rapaz beijou a cabeleira ruiva da moça. — Como foi o casamento do seu irmão? Mal tivemos tempo de conversar... Você voltou tão cansada da viagem...
          Soph engoliu seco. 
          O verdadeiro motivo de ter evitado conversar com Pierre, na noite anterior, foi o fato de que não conseguia aceitar que daqui a um ano, teria de terminar o seu relacionamento com o rapaz.
          Por mais que Ian aceitasse quebrar o acordo, ela não poderia permitir aquilo. Havia feito uma promessa a si mesma, e por mais que amasse o moreno a sua frente, não permitiria que outros sofressem, por conta de seus sentimentos.
          Mesmo em meio a seus devaneios, a ruiva abriu a boca para responder ao namorado. Porém, foi interrompida por um grupo de rapazes da Corvinal, eram os amigos de Pierre: Michael, Chadwick e Simon.
          — Ora ora... O casal do ano. — Um dos rapazes, Chadwick, disse.
          — Quem diria que eu veria o Pierre por aqui... — Michael, ao seu lado, completou. — Já sei! Ele está de coleira de dragão! - Logo em seguida, o grupo começou a rir. 
          Sophie olhou para Pierre sem entender nada, mas resolveu entrar na brincadeira:
          — Vocês têm que ver o outro lugar que eu coloquei uma coleira. Ficou lindo. Vocês deveriam tentar e mostrar um para o outro.
          Pierre corou, seguido pelo grupo.
          — Ora ora, descobri que vocês sentem vergonha de alguma coisa! Já que apostar mulheres não se enquadra nesse quesito... — Disse a ruiva olhando ironicamente para o grupo. Todos os rapazes ficaram ainda mais constrangidos. 
          Após o silêncio reinar no recinto, Chadwick tentou apaziguar a situação:
          — Qual é Ruiva... Você perdoou o Pierre, não pode ficar para todo sempre furiosa com os amigos dele.  
          Em resposta, a garota simplesmente arqueou a sobrancelha, como se dissesse: "Você quer pagar pra ver?!"
          — Er... — Chadwick deu  uma risada sem graça. — Só estou dizendo... poderíamos virar essa página. Afinal você conseguiu relevar tudo o que se referia a aposta e voltar para o nosso querido francês aqui. - O rapaz deu um leve soco no ombro de Pierre.
          — Ele me pediu desculpas. Não escutei de vocês. — Soph encarou o grupo.
          — Precisávamos?— Questionou Michael.
          — Tem certeza que quer que eu responda? — Sophie disse ironicamente, parando subitamente logo em seguida. -Mas se bem que... — A garota sorriu maliciosamente. — Se bem que... Vocês podem me pedir desculpa de uma outra forma...
(...)
          Mais  tarde, no horário de almoço, o grupo de rapazes conversavam na mesa da Corvinal.
          — A sua namorada não pode tá falando sério! — Simon dizia.
          — E mesmo se estiver nós não vamos fazer isso! — Michael respondeu, enquanto balançava as pernas, desesperadamente.
          — Bem... Era uma parte da aposta, caso o Pierre ganhasse... E bem, ele ganhou... — Falou Chadwick, pensativo.
          — CALA A BOCA CHADWICK! — Simon e Michael gritaram.
          Pierre olhava para toda aquela cena com um ar de riso, mesmo conhecendo sua ruiva muito bem, ainda se surpreendia com a sua criatividade.
          — Mas ela não tá errada... Nós dissemos que iríamos fazer isso... — Chadwick divagava.
          — Eu não vou fazer isso! — Michael disse num tom desesperado. — Eu aceito pagar o valor que iríamos dar ao Pierre, mas a segunda parte não!
          — Mas se ela não descobrisse, nós não iríamos ter de fazer?! — Questionou Chadwick coçando a cabeça.
          — No salão comunal! — Retrucou Michael.
          — Além disso, não achávamos que o Pierre ganharia... — Complementou Simon.
          — Ei! — Falou Pierre, tirando pela primeira vez o ar de riso.
          — Qual é cara... A gente não é tão maluco assim...— Retrucou Simon.
          Pierre deu de ombros, concordando à contragosto.
          — Então, estamos decididos, não vamos fazer essa loucura pela namorada de um amigo. Certo? — Questionou Michael, esperando algum tipo de apoio. — Afinal, não é como se você fosse se casar com ela ou algo do tipo...
          — Nunca se sabe... — Pierre respondeu.
          — Pierre, meu caro amigo francês, converse com a cabelos de fogo para aliviar para o nosso lado. — Simon pediu.
          — Ela está irredutível. — O garoto disse, rindo novamente.
(...)
          Enquanto os rapazes ainda estavam conversando sobre possíveis maneiras de escapar dos planos de Sophie, a garota acabava o almoço rápido e corria para a mesa da Corvinal. Ao chegar lá disse:
          — Rapazes, prontos? — Ela ria.
          — Sophie, pelo Pierre, não faça isso com a gente... — Michael pediu.
          — É. Nós nos arrependemos. — Simon completou.
          — Não faremos isso com mais ninguém. — Chadwick terminou.
          — De jeito nenhum. — A ruiva continuava a rir.
          — Sabe que esse lance de vingança não leva a nada. Não sabe? — Michael tentava argumentar.
          — Você está apelando pra o meu coração?! É sério?! — Questionou Soph, cruzando os braços.
          — É... Foi uma ideia estúpida... — Michael admitiu, passando as mãos nos cabelos.
          — Bem, vocês não quiseram a primeira opção... nem quiseram ouvir a segunda e já aceitaram... — Disse a ruiva, gesticulando com as mãos.
          — A primeira opção seria contar para o diretor da nossa casa! Não achávamos que a segunda seria pior! — Simon rebateu.
          — Quem mandou não terminar de ouvir a outra proposta? — Debochou Sophie. 
          Pierre não conseguiu se controlar, dando uma risada.
          — Nós podemos simplesmente não fazer nada disso! — Chadwick desafiou a ruiva.
          — Então todas as mulheres do mundo bruxo vão saber exatamente o que vocês aprontaram! - Zombou a garota.
          — Você não tem provas! — Chadwick apontou o dedo para a ruiva, como se tivesse feito a descoberta do século.
          — Não preciso de provas pra infernizar o último ano de vocês em Hogwarts. Preciso de tempo, paciência e criatividade. — A ruiva deu um leve tapa no dedo de Chadwick. - E nesses quesitos, eu garanto que posso surpreender a todos vocês... — Novamente, a garota sorria maliciosamente.
          Os três amigos de Pierre se entreolharam. Sophie não tinha o apelido de "Quebra-Ossos" apenas pelos seus lances no Quadribol, mas também pelo seu jeito tortuoso de fazer justiça. Estavam encurralados.
          — Vamos fazer logo essa droga... — Simon subitamente se levantou. — Anda Michael! Você também, Chadwick!
(...)
          O grupo dirigiu-se até o Lago Negro. O caminho do Salão Principal até o Lago era uma mistura de um sorriso malicioso vindo de Sophie, risos abafados vindo de Pierre e puro nervosismo vindo de Michael, Simon e Chadwick.
          — Ainda não acredito que vamos fazer isso... — Chadwick reclamava.
          — Por que você não para com isso e faz logo? — Sophie riu.
          — Pierre, sua namorada é má! — Michael choramingava.
          — Ela é.... — Pierre concordava, piscando para a namorada.
          — Bom, se vocês ficarem com vergonha, posso virar de costas.
          — Sophie, você não vai contar isso para ninguém, pelo amor das barbas de Merlin! — Chadwick pediu.
          — Não vou.
          — Eu não estou preocupado se ela vai dizer, eu estou preocupado com as coisas que moram aí no Lago Negro! — Michael apontava para o imponente Lago.
          — Pensem nisso como uma expedição em busca ao desconhecido! — A garota ainda mantinha o sorriso maroto nos lábios. A ruiva olhou ao seu redor, verificando que estavam sozinhos. — Acho que devemos aproveitar que todos ainda estão no almoço... Posso fazer a regressiva?
          — Você não quer nem ao menos... — Chadwick ainda tentou falar mais uma vez.
          — Dez! — Sophie começou a contagem, ignorando o corvinal.
          — Mas que merda... — Simon começava a se despir, sendo acompanhado pelos outros.
          — Nove!
          — Essa água deve tá congelando... — Michael se lamuriava.
          — Oit... — A ruiva olhou espantada para o namorado. — Mas o que você está fazendo?! — Pierre também se despia.
          — Sou tão culpado quanto eles... — O rapaz deu um sorriso sem graça. — Talvez até mais... Além disso, tecnicamente, eu também perdi a aposta. — O garoto deu uma piscadela. — Continue a contagem. - Pierre tirava o suéter.
          — S-s-sete! — A garota não conseguia esconder o sorriso de orgulho que se formava em seus lábios.
          — Vocês são loucos... — Resmungava Chadwick, revirando os olhos.
          — Seis!
          Todos os quatro rapazes já haviam retirado suas respectivas camisas e suéters.
          — Cinco!
          Os quatro corvinais começavam a tirar os sapatos e as meias.
          — Quatro! 
          O grupo de rapazes ficou em frente ao Lago Negro, começando a desabotoar suas calças.
          — Três!
          Todos os corvinais estavam apenas de cueca. 
          — Dois! — Soph ficou de costas para o lago.
          Nesse momento, não havia mais cuecas.
          — Um!
          Os quatro rapazes foram correndo em direção ao Lago Negro, e pularam na água gelada. Ao ouvir o impacto dos corpos sob a água, Sophie virou e viu as quatro cabeças para fora do Lago. 
          — Vocês estão lindos... — Ela ria.
          — Eu estou congelando! — Michael reclamava.
          — Pronto! Entramos! — Simon gritou. — Podemos sair.
          — Vocês não ficaram nem um minuto! — Ela gritou de volta. — Esperem até suas partes enrugarem!
          —Sophie, chérie, a água está gelada! Por favor. — Pierre pediu.
          — Mais um pouco chérie. — A ruiva respondeu.
          — Nós vamos passar a noite aqui... — Chadwick choramingava. — Eu realmente espero que você a peça em casamento.
          — C-c-como?! — Questionou o francês, enquanto tremia de frio.
          — Chadwick, você não consegue manter a boca fechada?! — Resmungou Michael.
          — Do que vocês estão falando? — Pierre começou a ficar nervoso.
          Os três amigos do francês olharam um para o outro, tirando as zombarias de Sophie, tudo estava num silêncio absoluto.
          — Alguém pode me explicar?! — Pierre olhou para os colegas.
          — Sabemos da aliança. — Simon finalmente respondeu. — Você deixou no quarto. — O rapaz se encolhia devido ao frio. — Na gaveta do criado mudo... Fui pegar uma pena emprestada...
          Pierre estava pálido e sem palavras.
          — Não podíamos continuar brigados com a sua ruiva... Afinal ela vai ser sua esposa não? — Michael tentava sorrir, mesmo tremendo violentamente de frio.
          — Então... — Começou Pierre.
          — Sim. — Simon o interrompeu. —  Fizemos por você, mas não se engane, uma boa parte também foi por medo da sua ruiva. — O rapaz deu uma risada.
          — Eu não tenho como... — Pierre tentava agradecer aos rapazes.
          — Cala a boca... — Foi a vez de Michael interromper o francês. — Só garanta que ela aceite, e que isso tudo não foi à toa.— O loiro piscou para o rapaz.
          Logo em seguida, Sophie começou a gesticular com braços, dizendo que os garotos podiam sair, dizendo que a partir daquele momento estavam quites. Enquanto Pierre começava a nadar em direção à margem e via sua namorada gargalhando de seu plano de vingança, ele decidiu quando a pediria em casamento. No final do ano letivo.

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