Nem Todos Os Apanhadores São Jogadores de Quadribol
— Eu quero saber de quem foi a ideia de lesma de deixar o Hagrid dar uma aula de madrugada com Você-sabe-quem à solta!
Rich caminhava, ou melhor, se arrastava por dentro da Floresta Proibida. As reclamações do garoto não estavam sozinhas; podia-se ouvir alunos das outras casas reclamando de sono, perigo ou, simplesmente, por reclamar.
— Pare de reclamar. Estamos seguros. — Johnny era o único que parecia empolgado.
— John, você gosta de passear na Floresta Proibida, mesmo sabendo que é proibida. — Sophie dizia, também em um humor não tão bom.
— Vocês reclamam demais!
(...)
Nádia caminhava com os alunos da Sonserina e, assim que conseguiu, desvencilhou-se de seus colegas de casa e foi em direção aos amigos.
— O que será que ele vai mostrar para a gente? — Ela disse.
— Não é possível que você também esteja feliz! — Rich bufou.
— Não. Estou com sono mas... estou aqui já.
Richard resmungou mais alguma coisa e os quatro seguiram até uma clareira.
Os alunos fizeram uma meia lua, deixando Hagrid no meio.
— Escolhi esse dia especial para uma aula especial. Hoje, é lua cheia...
—Vamos ver lobisomens? — Algum aluno gritou.
— Claro que vamos idiota. Vamos ver e virar janta dele! — Um outro respondeu.
Uma onda de risos invadiu a Floresta Proibida.
— Alguém tem algum palpite sobre o que vamos estudar hoje?
Os alunos se entreolharam, permanecendo calados.
— Ninguém? — O professor meio-gigante perguntou mais uma vez.
Johnny levantou a mão timidamente.
— Sim, Sr. Greengrass?
— Já que não são lobisomens. — Os alunos riram. — E acho que não são centauros... Vamos estudar bezerros apaixonados.
— Muito bem. — Hagrid respondeu. — 5 pontos para a Grifinória.
Johnny não pôde deixar de sorrir.
"Sabichão." Richard murmurou, brincando com o amigo.
— Os bezerros do amor são criaturas muito tímidas, que só aparecem à noite e, em noites de lua cheia. A nossa tarefa de hoje é: encontrá-los.
— Mas como vamos encontrá-los? — Uma aluna perguntou.
— Procurando... — Hagrid respondeu. — Mas que pergunta... — Ele continuou. — As tocas deles ficam pelo entorno dessa clareira. Você vão identificá-los.
— Como vamo identificá-los? — Um aluno, ao fundo, perguntou.
— Vai ser a única criatura que não vai matar vocês hoje, nesse horário.
— E você preocupado com Você-Sabe-Quem... — Sophie provocou Richard.
— Eu vou te dar de comida pra o bezerrinho da paixão... — Resmungou Rich.
Os dois amigos se entreolharam e deram uma risada.
— Eles se chamam bezerros do amor e são extremamente dóceis. - Johnny se meteu entre os dois amigos.
Hagrid pigarreou, com o intuito de voltar a atenção de sua turma dispersa para ele.
— Bem, as fezes dos bezerros do amor são extremamente úteis como fertilizantes... — Começou o professor, quando a turma se calou.
— Ah Merlin, não... — Falou Rich, pedindo aos céus para que sua suposição estivesse equivocada.
— Espero que tenham lembrado de trazer os cadernos e as luvas de couro de dragão. Hoje, vocês irão coletar as fezes dos bezerros que acharem...
— Só me faltava essa... — Rich fechou os olhos, dando um pesado suspiro. Naquele momento, seu maior desejo era estar equivocado.
— Que nojo! — comentou uma garota da Corvinal.
— De bruxo virei apanhador de cocô?! — Um garoto da Sonserina também reclamou.
Hagrid colocou sacos de tecidos no meio do semi-círculo de alunos, ignorando os comentários dos mesmos:
— Além da coleta, aproveitem o momento! Interajam e anotem tudo que puderem sobre esses lindos animais... Tanto em relação à aparência, quanto às suas fezes! — O meio-gigante parecia animado. - Vamos, vamos!
— Eu não acredito que vamos fazer isso! — Richard começou a reclamar mais uma vez. — Quando criança, eu nem limpava a areia do meu gato!
Os quatro começaram a andar pelos entornos à procura das fezes e, quem sabe, das criaturas.
— Cuidado onde pisam... — Hagrid alertou.
— Como se ele precisasse avisar isso... — Rich resmungava.
— Você é um velho Rich... — Nádia brincou.
— Vai me dizer que você tá animadona feito ele? — Richard apontou para Johnny, que estava habilidosamente procurando as tocas dos bezerros do amor.
— Nem tanto assim... — Respondeu Nady com um sorriso. — Usa a varinha pra procurar as fezes. — A pálida garota sugeriu.
Quando o grifinório ia sacar sua varinha, recebeu uma advertência do professor:
— Não usem as varinhas! As fezes dos bezerros do amor são extremamente sensíveis e podem se desintegrar, caso vocês não tenham cuidado.
Nesse momento, mais reclamações dos alunos.
— Essa aí foi pura falta de sorte... — Falou Nady, enquanto Rich revezava os olhares feios entre ela e Hagrid.
(...)
Johnny se afastou do grupo para procurar as fezes e, quem sabe, encontrar um bezerro. O garoto olhou por trás de um tronco velho e deparou-se com fezes frescas. Ele olhava com calma para cada buraco que poderia parecer uma toca mas não percebia que estava sendo observado, quando levantou o rosto, viu um par de olhos brilhando escondido num arbusto. Com calma, ele foi se aproximando.
— Oi amiguinho... — Ele dizia. O par de olhos continuava encarando o garoto.
Já em frente ao arbusto, ele abaixou e esticou a mão.
— Vem aqui vem... — Ele continuava a conversar com o par de olhos.
O bezerro do amor; com seus enormes olhos, patas de sapo e uma pele acinzentada que lembrava a de dragão, olhava desconfiado para John.
— Eu não vou machucar você... Quem poderia machucar algo tão maravilhoso como você? — Com movimentos precisos e delicados o rapaz se aproximava.
Johnny foi mais ou menos até a metade do caminho e parou, esperando ver se o animal fugiria ou se aproximaria.
(...)
Enquanto isso, Sophie e Richard faziam reclamações e caretas, cada vez que tinham de pegar uma das fezes dos bezerros do amor. Nádia olhava para aquela cena com um ar de riso, não conseguia deixar de achar aquilo engraçado. Principalmente, porque os dois grifinórios ficavam perturbando tanto um ao outro, a ponto de parecerem um casal de idosos discutindo.
Nady continuava rindo e se divertindo com aquilo, até que subitamente se lembrou que há um tempo considerável Johnny estava afastado do grupo. A garota vasculhou o local com os olhos, não o encontrando imediatamente e começando a ficar preocupada. Afinal de contas, a Floresta Proibida não tinha esse nome por ser um dos locais mais seguros do mundo bruxo.
A garota, então, ao invés de procurar bezerros e fezes, começou a procurar o amigo. Ela não precisou procurar muito. Johnny vinha em direção ao grupo acompanhado de uma criaturinha em suas pernas. Ao avistar a garota, ele fez um sinal de silêncio com as mãos. Nádia obedeceu.
Uma vez frente a frente, Johnny disse:
— Não fale muito alto. Ele está assustado.
Nádia olhava para o bezerro maravilhada. A garota abaixou e fitou a criatura.
— Oi rapaz...
O bezerro se escondeu no meio das pernas de Johnny.
— Acho que ele não gostou de mim.
— Eu acho que ele se perdeu da família. — John respondeu e se abaixou para fazer carinho no bezerro. — Ela também é sua amiga.
O bezerro parecia entender o que Johnny dizia e passou a olhar Nádia. Aos poucos, ele chegou perto da garota, colocando a cabeça embaixo da sua mão.
— Agora ele gosta de mim... — Ela sorriu.
— Ele é tímido, mas muito carinhoso.
— Não acha melhor avisar ao Hagrid? — Ela sugeriu.
— Vou fazer isso mas ele não vai pra lá. Está muito cheio. — Johnny explicou. — Chama ele pra mim por favor?
— Chamo sim... Oh! — A garota foi surpreendida pelo filhote de bezerro do amor, que ficou pedindo carinho para ela, fazendo sinais com a cabeça. — O que eu faço? — Questionou a jovem.
— O que você quer fazer? — Perguntou Johnny.
A garota sorriu para o rapaz e em seguida, sorriu para o animal, coçando a cabeça do mesmo carinhosamente, entre as orelhas.
— Estou fazendo certo? — Ela perguntou.
— Está sim... - Johnny sorria para Nádia. — Você leva jeito.
— Obrigada. — Nádia sorriu de volta.
— Você quer ficar com ele e eu chamo o Hagrid? — O garoto perguntou.
Nady não teve tempo de responder; Hagrid já havia avistado os dois com o bezerro. A criatura foi a primeira a ver Hagrid e correu para suas pernas.
— Então quer dizer que vocês acharam ele... — O professor dizia, já abaixado fazendo carinho.
— O Johnny que achou. — Nádia disse.
— Eu acho que ele está perdido. — O jovem bruxo explicou. — O resto do bando deve estar por aqui.
— Sim sim... — Hagrid olhava atentamente para o animal. — Qual o próximo passo?
— Seguir a trilha de fezes e pegadas... — Respondeu John prontamente.
— Faça isso! — Hagrid deu um "tapinha" nas costas de Johnny que fez o garoto esboçar uma careta e o bezerro do amor se encolher nas pernas de Nádia . — Mais cinco pontos para a Grifinória. Estão esperando o quê? Vão antes que amanheça! — O meio-gigante fazia sinais motivacionais com as mãos, parecia não notar que John ainda estava se recuperando da ardência em suas costas, e que o bezerro do amor estava mais encolhido do que nunca.
— Você está bem? — A sonserina perguntou, assim que o professor se afastou.
— Acho que ele deslocou meu ombro. — O grifinório respondeu.
Nádia não conseguiu segurar o riso, deixando o garoto extremamente sem graça.
Johnny apressou-se em mudar de assunto.
— É... Vamos procurar a família dele. Ele veio dali — Ele apontou para o arbusto.
Os dois jovens saíram andando pelo caminho apontando por John. Nenhum dos dois jovens falava, na verdade, se iniciava um silêncio constrangedor.
Em meio a esse silêncio, após alguns instantes, John olhou para Nady e tomando coragem começou a falar com ela. Pela primeira vez, os dois jovens estavam tendo uma conversa leve, normal e sem estarem cobertos de sumo de vermes.
Os dois foram interrompidos por Rich, que avistou o bezerro.
— Vocês acharam o bichinho. — Ele disse.
— Bezerro. — Johnny corrigiu. — Estamos procurando o bando dele.
— Ah... Vou com vocês! - Disse Richard olhando para o animal. — Ele é bem bonitinho... — O rapaz se abaixou para olhar mais de perto.
— É, ele é sim. — Respondeu Nádia com um sorriso, também se abaixando.
Johnny ficou visivelmente sem graça, pois por mais que gostasse de Rich, graças à ele, o momento com Nady havia se dissipado.
— Eerr...Vamos continuar procurando a família dele. — Johnny sugeriu, voltando o foco para a aula.
Os três continuaram procurando até que não precisaram procurar mais; eles perceberam vários olhos grandes olhando para eles.
— Acho que a família dele também o estava procurando... — Nádia disse.
— E o que a gente faz agora? — Richard perguntou.
— Não façam movimentos bruscos. — Hagrid, de repente, apareceu perto deles. — Garoto, leve ele até ali e todos vão aparecer. — E apontou para um tronco caído.
Johnny obedeceu e levou o bezerro até o tronco. Aos poucos, todos os olhos saindo das tocas e revelando uma grande família de bezerros.
O meio-gigante, assim como os três jovens olharam encantados para o bando. O pequeno filhote soltou um esganiçado som para Johnny, que soube imediatamente que era um pedido de agradecimento:
— Por nada amiguinho... — O jovem se abaixou acariciando a cabeça do animal.
Logo em seguida, o pequeno bezerro do amor saiu andando em direção à sua família, todos os quatro bruxos ficaram parados ainda admirando àquela cena.
— Muito bem. Nada tão bonito quanto uma família reunida. — Hagrid dizia com a voz embargada. — Vou chamar o resto da turma para ver isso. 15 pontos para cada um de vocês, pelo belo trabalho.
Hagrid saiu e voltou com os alunos, incluindo Sophie. Todos estavam maravilhados com os bezerros, que perdiam a timidez e chegavam perto dos alunos.
— Então era aqui que vocês estavam... — Sophie disse para os amigos. — E eu achando que tinham sido mortos por alguma coisa.
O Johnny encontrou um bezerro perdido e nós fomos procurar a família; o Rich encontrou a gente e continuamos procurando. - Nádia explicou.
— O Rich é... — Sophie divagou.
— Aconteceu alguma coisa? — Questionou Nady, vendo que Soph estava distante em seus pensamentos, ao invés de interagir com os bezerros do amor, como todo o restante da turma.
— Ah.. não, não! — Respondeu a ruiva. — Só me lembrei de uma coisinha que eu preciso falar com o Rich... — A garota ainda parecia distraída.
(...)
Depois que todos os alunos puderam ver de perto os bezerros do amor, se reuniram para a explicação final do professor, antes de finalmente serem liberados da aula. Nisso, Sophie aproveitou para ficar ao lado de Rich e os dois voltaram juntos.
— Rich...você tem algum problema mental? — A garota perguntou.
— Oi? — O garoto não entendeu o que a amiga queria dizer.
— Vou repetir: você tem algum problema mental?
Antes que o garoto pudesse responder, foi interrompido por um recado de Hagrid:
— Deixem os sacos com as fezes numa cesta que está em frente à minha cabana. Depois disso, direto para seus Salões Comunais.
Os alunos responderam que "Sim" em uníssono; Rich e Sophie continuavam a conversar:
— Sophie, por que eu teria algum problema mental?
— Você não sabe?
— Claro que não!
Sophie não respondeu; ela pegou o saco com fezes e começou a bater com ele no garoto.
— Mas... o... que...eu...fiz? — Rich perguntava, tentando se defender. — Soph, vai cair um negócio desse em mim... — O garoto apressou o passo para fugir da garota.
— Você é mais burro que uma mula! — Ela respondeu.
— Dá pra você me explicar?! E parar de bater em mim com isso! — Resmungou Richard.
A ruiva largou o saco no chão, esperando os outros alunos se afastarem.
— Depois de todo aquele fiasco na aula de Poções, o Johnny finalmente consegue se entrosar com a garota que gosta e você interrompe ele! — A garota pegou o saco novamente, o usando mais uma vez, acertando Richard em suas pernas. — Que droga de amigo é você?!
Rich parou para analisar o que tinha feito. Ele não sabia se tinha sido intencional mas queria procurar os dois para saber o que estavam fazendo. Tais pensamentos deixaram-no confuso.
— Eu...eu não percebi que eles estavam sozinhos.
— Você tem a sensibilidade de um trasgo bêbado Richard! — Sophie berrou.
— Eu não queria estragar o momento. — Ele disse. Ou queria? Seu cérebro completou.
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